fora do eixo, tudo me pesa, ora para um lado, ora para o outro, o equílibrio é instável, se não mesmo impossível, oscilo entre miragens, enjoo com as vertigens que a sensação de estar a pender para o abismo me traz, perco as referências da alma e do céu, de cada vez que as procuro nas coordenadas da terra e da pele. parece-me sempre que caio, quando não é o centro que ocupo, parece-me sempre que não pode nascer nenhuma unidade da dicotomia de ser tão balança e estar sempre tão dividida.
fora do eixo, desdobro-me em esforços para colmatar o que sinto que falta e nem me dou conta de que não falta nada que já cá não esteja. boicoto a leveza, anulo a simplicidade de nada, afinal, ter peso ou medida ou referência, recorro a todos os truques que sei para interditar a mim mesma a simples magia de ser.
fora do eixo, os altos e baixos sucedem-se e quando subo é a pique e quando desço é a medo e deixo-me contagiar pela crença de que a vida é uma enorme e gigante montanha russa de feira e que não tenho como parar a viagem que aqui vim fazer. fora do eixo, tudo é oposto. o branco e o preto, o bem e o mal, a luz e a sombra.
( Ines de Barros Batista)