22 fevereiro 2010

Nesse momento meus pensamentos impossibilitam que eu deite na cama e tenha um sono tranquilo, ou um sono por si só, mesmo que seja dos mais conturbados. O meu âmago se encontra num estado tão caótico, que provavelmente se tivesse um sabor, seria fel.
Ter auto-controle de pensamentos é, provavelmente, uma das tarefas mais árduas que um ser humano pode tentar conquistar. E eu até me dou bem na maioria das vezes, mas hoje a angustia permitiu que eles fizessem a festa e, por sua vez, me deixaram mais angustiada ainda.
Me sinto só. Parando pra pensar, eu reclamo bastante dessa solidão, estou começando a achar que eu sou só. Nesse momento eu até pagaria por um abraço, mas tinha que ser sincero, de coração com coração, vida com vida. Tinha que ser um abraço que surtisse efeito de um bálsamo para a minha alma, que hoje, está ferida.
Chorei, chorei... e não tive dó de mim. Na realidade nem sei por que choro, somente é um vazio que me preenche. Ah! Não senti falta desse maldito vazio.
Eu estou aqui, escrevendo no meio da noite, porque isso me alivia de alguma forma, pena que eu não escrevo por um longo período de tempo e mais pena ainda que não é um alívio permanente.
Às vezes eu simplesmente não gosto de ser eu mesma, sabia? É, acho que é simples assim.
Sou tão atenta na resolução dos problemas de outras pessoas , e acabo esquecendo de mim, esqueço que também tenho sentimentos, desejos. Sinto falta de uma mão estendida, de um olhar carinhoso, saber, sentir-se protegedia. Como será? Sempre tão só. Não devo reclamar da vida. Tenho duas preciosidades, que me enchem de carinho, de amor , mas minha solidão não é falta desse carinho, desse amor . Ela é única, marcada. No meio da multidão e só... eis minha sina...

20 fevereiro 2010

Pequenas felicidades

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que as coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para vê-las assim.



Cecília Meireles
"Às vezes me faltam forças. Não tem a ver com valer a pena ou não, não tem a ver com o amor que eu sinto, porque ele é grande o suficiente por duas pessoas. Mas às vezes me faltam forças pra pedir atenção, pra ser segura o tempo todo, pra ser deixada de lado por motivos banais.
E eu me considerava a pessoa mais impaciente do mundo, pelo jeito paciência nasce do dia pra noite, junto com a necessidade de manter a paz de espírito.
As coisas estão bem, sabe? Eu não tenho muito do que me queixar, mas às vezes essa falta de força me incomoda. E quereria eu não precisar de tal força, porque aí seria muito mais simples o meu dia-a-dia. Não geraria discussões ridículas por não saber exatamente o que fazer e onde me situar. Sei lá, essa carência me irrita às vezes. Meu medo é ser extremista, normalmente eu sinto muito ou não sinto nada. E isso, além da falta de força, me preocupa. "