17 novembro 2008

Alma nua



Ó Pai


Não deixes que façam de mim


O que da pedra tu fizestes


E que a fria luz da razão


Não cale o azul da aura que me vestes


Dá-me leveza nas mãosFaze de mim um nobre domador


Laçando acordes e versos


Dispersos no tempo


Pro templo do amor








Que se eu tiver que ficar nu


Hei de envolver-me em pura poesia


E dela farei minha casa, minha asaLoucura de cada dia


Dá-me o silêncio da noite


Pra ouvir o sapo namorar a lua


Dá-me direito ao açoiteAo ócio, ao cio


À vadiagem pela rua


Deixa-me perder a hora


Pra ter tempo de encontrar a rima


Ver o mundo de dentro pra fora


E a beleza que aflora de baixo pra cima








Ó meu Pai, dá-me o direito


De dizer coisas sem sentido


De não ter que ser perfeito


Pretérito, sujeito, artigo definido


De me apaixonar todo dia


De ser mais jovem que meu filho


E ir aprendendo com ele


A magia de nunca perder o brilho


Virar os dados do destino


De me contradizer, de não ter meta


Me reinventar, ser meu próprio


DeusViver menino, morrer poeta




(Vander Lee)

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